Que o sono é importante para o bem-estar você já sabia. Mas você não suspeitava como: segundo a pesquisa recém-publicada na revista PNAS de uma equipe da Universidade de Chicago, a fase sem sonhos do sono é necessária, entre outras coisas, para que o corpo regule corretamente o metabolismo da glicose durante o dia. Impeça jovens saudáveis de curtir especificamente essa fase do sono durante apenas três noites consecutivas, e o resultado é um nível de tolerância à insulina temporariamente tão elevado quanto o encontrado em adultos idosos na faixa de risco de desenvolver diabetes.
Os nove voluntários do estudo, todos jovens, magros e saudáveis, com níveis normais de glicose no sangue e produção normal de insulina, concordaram em passar alguns dias no laboratório, inclusive dormindo lá, enquanto seu metabolismo de glicose e resposta a insulina eram analisados. Para impedi-los de dormir a fase do sono sem sonhos, os pesquisadores monitoraram suas ondas cerebrais em permanência, e toda vez que detectavam o início de uma fase não-REM, acordavam os voluntários batendo à porta, chamando seu nome ou, nos casos mais difíceis, sacudindo seu ombro. Tudo em nome da ciência.
Os resultados foram claros: três noites sem sono profundo, com 90% a menos de sono não-REM ainda que com o mesmo tempo total de sono, foram suficientes para reduzir em 25% a sensibilidade de oito dos nove dos voluntários à insulina, diminuindo sua capacidade de remover a glicose do sangue. Essa redução da sensibilidade à insulina por falta de sono não-REM corresponde à redução causada pelo ganho de 8 a 13 quilos de peso, e é semelhante à encontrada em pacientes idosos ou obesos, com alto risco de desenvolver diabetes do tipo 2.
Embora a privação de sono seja um fator de estresse, a perda de sensibilidade à insulina não estava associada a uma elevação do nível do hormônio típico da resposta ao estresse no sangue, o cortisol, e sim a um aumento da atividade do sistema nervoso simpático, que sabidamente afeta a produção de insulina pelo pâncreas.
Além de mostrar que o sono não-REM tem um importante papel na regulação do metabolismo energético do corpo, o estudo levanta uma possibilidade intrigante: a incidência elevada de diabetes tipo 2 em idosos e obesos pode estar relacionada a distúrbios do sono nessas pessoas, ou ao menos ser acentuada neles pela falta de sono.
Vai levar algum tempo até que essa possibilidade seja examinada. Mas enquanto isso, cuidar da distribuição de glicose para as células do seu corpo não é uma ótima razão para dormir bastante e sempre? (SHH)
Fonte: Tasali E et al. Slow-wave sleep and the risk of type 2 diabetes in humans. Proc Natl Acad Sci USA. http://www.cerebronosso.bio.br/descobertas/?currentPage=18
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